terça-feira, 21 de agosto de 2012

Blog ou jornal?


“Vi muita gente profetizar a morte da literatura de cordel. Vi alguns desses profetas morrerem e a literatura de cordel continua viva.”(Ariano Suassuna)
Quem trabalha com jornal escolar é frequentemente questionado: por que não fazer um blog?  É uma pergunta pertinente, que leva a interrogar-se sobre as vantagens e exigências apresentadas por um e outro recurso.
De início, é importante considerar que embora sejam muito diferentes no que diz respeito ao suporte da comunicação (situado no registro virtual e real respectivamente, para o blog e o jornal), as duas mídias colocam idênticos desafios pedagógicos sobre o modo de produção dos conteúdos e de edição. Blogs e jornais escolares não têm nenhuma relevância se forem meros exercícios escolares autoritários. A modernidade tecnológica ou a tradição não apresentam, em si mesmos, nenhuma vantagem ou desvantagem no campo crucial dos processos – tudo é pedagogia.
Isso dito, é fácil perceber a enorme vantagem que tem os blogs, por veicular conteúdo multimídia praticamente ilimitado. Para que essa vantagem tenha um significado concreto, porém, precisam ser alimentados permanentemente, pois na terceira ou quarta vez que abrimos um blog não atualizado, deixamos de visitá-lo. É um fato facilmente comprovável que muitas escolas têm dificuldades em manter esse ritmo. Nesses casos, a vantagem teórica pode se transformar em uma desvantagem real. Eis então um primeiro grande desafio para o blog escolar: precisa ter fôlego e trabalho constante!
Em comparação, o jornal escolar está limitado – limitadíssimo – no conteúdo que pode oferecer, mas não sofre o problema da atualização, pois é um produto “fechado”, que circula completo. Fica desatualizado e sai de circulação. Mas renasce na próxima edição.
Outra notável característica do blog é a interatividade, universal e instantânea. No jornal escolar ela é limitada, pois se realiza de uma edição para outra, através das cartas dos leitores. Deve-se considerar, porém, que o fato de ser um objeto real, o transforma em suporte de momentos de convívio, pois pode ser lido e comentado entre amigos ou colegas, recortado, colado, transformado em um aviãozinho de papel…
Seja como for, nos dois casos a interatividade coloca o mesmo desafio à fibra democrática das escolas: Qual é o grau de liberdade permitida aos leitores e internautas? Quem decide o que será publicado, ou não? O fato da interatividade ser instantânea e potencialmente massiva, no blog, agrega uma urgência às decisões que devem ser tomadas, o que não facilita as coisas para os moderadores da ferramenta.
Do ponto de vista da circulação, a facilidade do blog escolar é a priori enorme. Por se situar no mundo virtual, pode ser acessado a qualquer momento, em qualquer lugar; pode ser compartilhado e replicado através de emails e redes sociais. Olhando mais de perto, porém, essa facilidade reduz suas proporções, pois a afirmação de que o blog se situa no mundo virtual não é totalmente verdadeira: para acessá-lo é necessária a mediação de um kit tecnológico, formado por um dispositivo de acesso (computador, tablet etc.) e conexão com a internet. Esses equipamentos não estão sempre disponíveis aos alunos e suas famílias.
Neste ponto, a simplicidade constitui uma vantagem para o jornal escolar. O estudante recebe na escola, coloca na mochila, e o jornal já está circulando. A distribuição em reuniões de pais e a leitura em sala de aula completam sua eficácia para chegar à comunidade escolar.
Percebemos que do ponto de vista da circulação as duas mídias têm natureza bem diferentes. O blog requer que o leitor vá ao meio, que ele tenha a intenção – combinação de lembrança e de interesse – de acessá-lo. O jornal escolar, ao contrário, vai ao encontro do leitor e propõe um acesso instantâneo: basta pegar e ler.
Então, blog ou jornal? Qual é a melhor opção? O melhor é mesmo recusar a pergunta!
Por que não pensar no conjunto blog + jornal escolar? O jornal escolar parece ser a melhor opção para projetos de comunicação que apostem no contato com a comunidade escolar e o bairro. Já o blog é imprescindível para projetos que buscam contatos com pessoas de outros bairros, municípios, estados ou países, às quais a escola e os estudantes não podem chegar pelo jornal.
Daniel Raviolo
raviolo@comcultura.org.br

disponível em: portal jornal escolar

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